Encontro de pesquisa ocupou salas e auditórios da UERJ durante quatro dias
A 6ª edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (ENPSSAN) reuniu pessoas pesquisadoras, estudantes e representantes da sociedade civil e do Governo Federal entre os dias 10 e 13 de setembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). De volta ao presencial, o evento registrou recordes: um público de mais de 600 pessoas e a apresentação de mais de 400 trabalhos.
A edição anterior do ENPSSAN, que seria realizada em 2021, em Salvador, precisou ser adiada. O 5º ENPSSAN foi realizado em 2022, em modo remoto. O país lidava com as graves consequências da pandemia de COVID-19 e dos desmontes de políticas públicas. Agora, em 2024, com a retomada das políticas de enfrentamento à fome, o ENPSSAN aterrissou em terras cariocas para aprofundar sua vocação na pesquisa cidadã, discutindo a soberania e a segurança alimentar e nutricional sob novas e crescentes perspectivas.
“Em 2022, estávamos diante de um cenário de negacionismo científico, de paralisação. Aquele encontro foi muito bom, mas faltavam os abraços, os sorrisos, os novos projetos e as articulações. Voltamos agora, em 2024, com número recorde de inscrições. Ainda vivemos o desalento da fome, mas também um governo sensível ao problema. Estamos construindo políticas públicas no enfrentamento das desigualdades, da fome e das mudanças climáticas”, comemorou Sandra Chaves, coordenadora da Rede Penssan.
A estrutura criada para o 6º ENPSSAN ocupou boa parte da universidade. Os participantes e painelistas circularam por oito auditórios, salas de aula, a Capela Ecumênica e o Teatro Odylo Costa Filho, todos no Campus Maracanã. Além disso, pequenos produtores levaram uma feira agroecológica para oferecer seus produtos e alimentos orgânicos para os visitantes.
“É uma honra enorme ter as nossas portas abertas e receber vocês. A desigualdade no país é imensa, mas temos mostrado para o mundo que é preciso enfrentá-la de forma clara e com dados. Esse é o trabalho que a Rede Penssan faz”, destacou Gulnar Azevedo e Silva, reitora da UERJ, em sua fala de abertura.
A multiplicidade de temas e incidências do 6º ENPSSAN vem na esteira de uma iniciativa da Rede Penssan com repercussão internacional: o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN). O estudo, realizado com o apoio de organizações da sociedade civil, denunciou que, entre 2021 e 2022, 33 milhões de brasileiros não tinham o que comer. A realidade nefasta evidenciada pela pesquisa vem conduzindo as ações do poder público no enfrentamento à fome.
“Em 2022, tivemos acesso aos números que demonstravam a escalada da fome, da insegurança alimentar e nutricional no país graças à Rede Penssan. Foi um trabalho fundamental para retomarmos um projeto democrático, para pôr nas ruas novamente políticas públicas de combate à pobreza e à fome, para dar centralidade à segurança e à soberania alimentar”, comentou Valéria Burity, secretária Extraordinária de Combate à Pobreza e a Fome do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
Nasce uma rede
Organizadora do ENPSSAN, a Rede Penssan nasceu há doze anos numa série de encontros realizados em Brasília. À época, conselheiros e conselheiras do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) participavam dos debates sobre as diferentes formas e origens do conhecimento em segurança alimentar e nutricional.
A ideia de transformar aquele grupo de trabalho em uma rede efetiva veio da constatação de que era preciso articular estudantes, pesquisadores e profissionais que estavam nos movimentos sociais e na sociedade civil – pessoas que geravam, preservavam e valorizavam as mais diversas formas de conhecimento em torno do tema.
“Havia uma vontade de dialogar e promover pesquisa em soberania e segurança alimentar e nutricional para que ela pudesse incidir sobre as políticas públicas no país. Em 2019, consolidou-se a ideia de constituir uma organização da sociedade civil e hoje somos uma organização, uma rede em todo o Brasil”, lembrou Sandra Chaves.
Nova marca
Na abertura do 6º ENPSSAN, a Rede Penssan apresentou sua nova marca para toda a sua comunidade e interlocutores. De cara nova, a entidade de pesquisa cidadã quer aprofundar suas raízes no direito humano à alimentação e todas as suas implicações.
“A Rede Penssan se abre à sociedade cada vez mais. Mas assumimos nossas raízes. Colocamos o ser humano no centro do nosso olhar, da nossa ação em pesquisa cidadã”, comemorou Sandra.