Retrospectiva 2024: insegurança hídrica em pauta no 6º ENPSSAN

Pesquisadores mostraram pesquisas em curso para a validação de uma nova escala brasileira

Uma série de atividades realizadas na UERJ, na Fiocruz e no BNDES deram a partida do 6º Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (ENPSSAN), no dia 10 de setembro de 2024. As ações, em torno da agenda de SSAN, foram propostas por diversos atores do governo e da sociedade civil. Nessa agenda pré-ENPSSAN, a Rede Penssan realizou o I Seminário Internacional sobre experiências do desenvolvimento da Escala de Insegurança Hídrica Domiciliar. O encontro teve como sede o Auditório do BNDES, no Centro do Rio. 

A programação foi composta por uma mesa de abertura e quatro sessões de painéis. O objetivo do encontro foi discutir as experiências de pesquisas para a validação de uma escala hídrica, que ajude na medição da insegurança hídrica domiciliar. Pesquisadores internacionais compartilharam experiências de validação e aplicação da escala na América Latina e no Caribe. Os cientistas brasileiros apresentaram seus trabalhos no sentido de validar a escala no Brasil. 

“A Rede Penssan acolheu a ideia de abraçar a escala de insegurança hídrica no Brasil, que tem tanta água e tanta falta de acesso à água. Estamos falando de um recurso que é alimento para o corpo, para a terra, para a alma. Usamos água para higiene, para higiene da casa, para preparar alimentos. É uma riqueza muito grande”, comentou Sandra Chaves na abertura do Seminário. 

Entre os anos de 2021 e 2022, os pesquisadores da Rede Penssan aplicaram a escala hídrica em caráter experimental, juntamente com o questionário sobre insegurança alimentar, durante o II Inquérito de Insegurança Alimentar no contexto da Covid-19 (Vigisan).

“Ficou bastante claro que a insegurança alimentar era fortemente relacionada à insegurança hídrica. Muitas perguntas também afloraram. Qual a dimensão do acesso à água que mais dialoga, influencia ou determina a insegurança alimentar? Quando se usa a escala, percebemos algumas nuances do acesso à água”, destacou Sandra. 

Os pesquisadores da Rede Penssan envolvidos na pesquisa para a validação da escala de insegurança hídrica compartilharam suas experiências. Além da aplicação do questionário durante o Vigisan, as equipes fizeram investigações no Semiárido, na Amazônia, no Rio de Janeiro e em Sergipe. 

Mayline Menezes da Mata, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), realizou sua pesquisa nas áreas urbana e rural do município de Itapiranga, na bacia hidrográfica do Amazonas. A pesquisadora encontrou diferenças de comportamento entre as zonas urbana e rural da cidade, identificou que a insegurança hídrica está relacionada com a insegurança alimentar e com a renda. Há maior prevalência desse índice nas situações em que a chefe do domicílio é do sexo feminino, em que a renda é menor ou igual a dois salários-mínimos e quando há presença de criança na residência. 

A experiência de Mayline mostra como o problema da insegurança hídrica no Brasil está relacionado com uma série de fatores que precisam ser considerados para a validação da escala. 

“São múltiplos aspectos que já dificultam nossa análise. Temos que olhar para as questões territoriais. No Amazonas, quando estudamos a insegurança hídrica e a insegurança alimentar, precisamos considerar a dinâmica das águas, que determina os modos de viver na Amazônia, a abundância dos recursos hídricos e da biodiversidade, que ocultam o problema da falta de água e intensifica o fenômeno da fome no estado. Assim como problemas de distribuição, abastecimento, armazenamento e a vigilância, tanto da insegurança alimentar quanto hídrica, e assim como as desigualdades já conhecidas no nosso país”, apontou ela. 

O professor Mauro Eduardo Del Grossi, da Universidade de Brasília (UnB), mostrou como a escala que está sendo estudada para ser validada é robusta, e como ela pode vir a ser aplicada em diferentes contextos do país.

“Estamos na fase de levantar perguntas e testar a robustez da escala. O último teste feito entre as grandes regiões do país mostra que o Norte responde diferente, especialmente sobre a percepção a respeito da preocupação sobre a falta de água. Este teste é importante para a escala nacional”, explicou. 

Rosana Salles-Costa, coordenadora do seminário e do 6º ENPSSAN, celebrou os debates e a troca de experiência entre os pesquisadores que trabalham na validação da escala. Ela destacou que os estudos para a escala de insegurança hídrica acontecem 20 anos depois da validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). 

“É simbólico, depois de 20 anos, finalizarmos essa etapa de validação do que vai ser a escala da insegurança hídrica. Vamos tocar essa agenda até o final do ano, para fazermos essa validação e incluir uma escala de segurança hídrica no debate sobre insegurança alimentar, da fome e da saúde”, concluiu.



Comments are closed.